
"Oferecemos soluções para o agronegócio como o acompanhamento de lavouras por agrônomos
e técnicos e fornecimento de insumos agrícolas para a nutrição de plantas e controle de pragas"
O El Niño deve alcançar o pico no inverno (no Hemisfério Norte), de acordo com os principais modelos meteorológicos, e a expectativa é de que o fenômeno climático comece a perder força no primeiro semestre de 2016. Com isso, investidores já começam a se antecipar quanto à possibilidade de La Niña, fenômeno que também tem fortes impactos na produção agrícola mundial e pode influenciar os mercados de commodities. Eventos de El Niño frequentemente são seguidos pelo fenômeno inverso, La Niña. Alguns analistas apontam, inclusive, que a ocorrência de La Niña pode ter impacto ainda mais acentuado nos preços de commodities agrícolas. Recentemente, os departamentos de clima da Austrália e do Japão afirmaram que o El Niño atual já pode ter chegado ao auge e deve diminuir ao longo do primeiro semestre, com o resfriamento gradual das águas superficiais do Oceano Pacífico. No início de dezembro, o El Niño - o mais forte desde 1997/1998 - causou a elevação da temperaturadas águas em 3,6 graus Fahrenheit em alguns pontos.
O fenômeno La Niña ocorre quando o padrão de ventos sobre o oceano se altera e causa o esfriamento anormal das águas da região central e leste do Oceano Pacífico. Assim como o El Niño, que causa o aquecimento das águas, essa mudança na temperatura pode influenciar o clima diversos países ao redor do mundo. A intensidade do fenômeno é medida pelas temperaturas do oceano e pelas modificações nos padrões de ventos. Se o El Niño perdeu força no primeiro semestre do ano, como previsto, após quatro anos de ausência, há grandes chances de o fenômeno La Niña ocorrer a partir do fim de 2016 ou início de 2017. Normalmente, o La Niña causa clima mais seco com menas chuvas e temperaturas mais baixas em alguns Estados dos Estados Unidos e na América do Sul, ao contrário do El Niño, que encerra um de seus ciclos mais intensos. Na Austrália, Indonésia e América Central, o efeito é inverso, causando tempo mais úmido que a média. Além disso, o fenômeno climático aumenta a probabilidade de formação de ciclones tropicais no Pacífico.
"Fala-se muito sobre o El Niño, mas muito pouco de La Niña", afirmou David Ubilava, pesquisador da Escola de Economia da Universidade de Sydney, que estuda a correlação entre anomalias climáticas e os preços de commodities. No Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, estiagens são mais prováveis em anos de La Niña, o que pode reduzir a oferta de alimentos e sustentar os preços.
O cenário é bom para o cultivo do trigo, que fica diante de uma perspectiva mais favorável depois de duas frustrações consecutivas devido ao excesso de precipitações. Ao mesmo tempo, impõe cautela para a próxima safra de verão devido à possibilidade de déficit hídrico.
Conforme a maior parte dos modelos climáticos, se confirmado, o La Niña terá intensidade fraca a moderada e poderá se prolongar até o começo de 2017. “É de 90% a probabilidade de os próximos meses serem de neutralidade ou La Niña”, afirma a meteorologista Estael Sias, da MetSul. Se tudo ocorrer conforme a tendência atual, será a primeira vez desde 1998, segundo a meteorologista, que o fenômeno sucede um “super” El Niño, que no último ciclo trouxe ao Rio Grande do Sul períodos de chuva acima da média.
Cultura de clima temperado, o trigo não apresenta problemas com o frio e, além disso, pode se beneficiar de um clima seco, que reduz o risco de doenças fúngicas, causadas pelo excesso de umidade. Porém, um outro fenômeno irá exigir a atenção do produtor para esta safra. “Sendo um ano de La Niña, há também a probabilidade de geadas mais frequentes e mais intensas”, alerta o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo. Mesmo que o evento seja corriqueiro, as baixas temperaturas diminuem os bloqueios na atmosfera e as massas de ar polar entram com maior frequência sobre o continente.
Alguns cuidados podem ajudar o produtor a diluir os riscos da provável variação climática. Um deles é escalonar as épocas de semeadura, ou seja, não concentrar todo o plantio num único período. A preocupação maior é com as geadas que ocorrem no mês de setembro, durante o espigamento da planta. No Rio Grande do Sul, o período do plantio começou em maio, nas Missões (região mais quente), e segue até julho nos Campos de Cima da Serra (mais fria). Conforme o período, o produtor pode diversificar o ciclo de cultivares. Outra recomendação é, sempre que possível, aderir a algum programa de seguro rural. “O risco de geada existe, mas é coberto”, salienta Cunha.
Mesmo que a área cultivada de trigo fique menor, o clima poderá contribuir para uma colheita mais favorável em relação aos últimos dois anos. “Temos uma expectativa de maior volume e melhor qualidade desse produto”, afirma o engenheiro agrícola Rogério Mazzardo, gerente técnico estadual adjunto da Emater. Nas últimas duas safras, além da produção ter sido reduzida, o trigo colhido foi, em grande parte, de qualidade inferior. A estimativa da Emater é que a área de trigo no Estado caia 13%, ficando em 766,8 mil hectares. A produtividade, por sua vez, deverá saltar de 1,7 para 2,2 toneladas por hectare.
Além do trigo, o La Niña também traz perspectivas favoráveis para a fruticultura. Bernadete Radin, agrometeorologista da Fepagro, explica que as plantas necessitam de um número adequado de horas de frio para sair da dormência. “O problema é quando elas saem da dormência e ocorrem geadas tardias, que fazem com que haja abortamento de flores e consequentemente menor produção de frutos”, complementa.
Escalonamento reduz os riscos
Embora não haja consenso entre os centros de pesquisa, a expectativa é de que o La Niña comece a se manifestar em setembro, época em que as lavouras de soja começam a ser semeadas. Ainda que o fenômeno possa ser um visitante indesejado para as lavouras de verão, o pior cenário para estas culturas são os anos considerados neutros.
O agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo, ressalta que as piores frustrações dos últimos anos ocorreram nas safras 1990/91, 2003/04 e 2012/13, quando nenhum dos dois fenômenos climáticos se manifestou. “O La Niña é uma ameaça para o verão, mas não é um fenômeno tão aterrorizante”, descreve. Cunha alerta que o abandono das práticas de conservação de solo, por exemplo, causa mais prejuízos do que o clima. “É mais simples atribuir um bom ou mau desempenho ao clima”, observa.
Para reduzir os riscos das lavouras de verão, como as de soja e arroz, as recomendações são semelhantes às dos cultivos de inverno. Rogério Mazzardo, da Emater, cita o escalonamento de plantio, uso de variedades adaptáveis, monitoramento de pragas e otimização da aplicação de insumos. Uma vez que o La Niña diminui a intensidade das precipitações, que passam a ocorrer de forma mais localizada, é recomendável investir em cobertura de solo e em boas práticas de manejo, explica. Estael Sias, da MetSul, alerta que o La Niña aumenta a incidência de granizo, o que afeta especialmente as lavouras.
Fonte: Correio do Povo
Rua Luiz Carlos Zani, nº 299 - Centro
CEP 86.200-000 - Ibiporã PR
E-mail: agroterra@agroterra.agr.br